sexta-feira, dezembro 30, 2005

O Suave Milagre 91 - Votos

Que aquilo que me assusta não seja tão mau como imagino e que possa sentir-me verdadeiramente feliz. Todos os dias.


A banda sonora da passagem de ano 2005/2006 ouve-se aqui e lê-se abaixo:

"Já chegou Dezembro
E se eu bem me lembro
Existem planos para o fim do mês...

Já chegou Dezembro
E eu não pretendo
Virar o ano longe de vocês... amigos...
Irmãos de fé... amigos...
Família é...

Quero realizar,
Comemorar, agradecer
Deixar rolar, saber viver
Deixar acontecer...
Me aprofundar, quero crescer
Quero focar
Eu quero ser mãe...
Eu quero ser mãe...
Que a vida seja como um laço
E o resto que vá pro espaço

Já chegou Dezembro
E se eu bem me lembro
Existem planos para o fim do mês...
Já chegou Dezembro
E eu não pretendo
Virar o ano longe de vocês, amigos...
Irmãos de fé... amigos...
Família é...

Sorriso, sombra e água fresca
Não largo o osso
Chupar a manga até ao caroço
Quem sabe?
Aceitar o meu tempo
E entender meu tamanho
Me encontrar profundamente
Sou como um livro
Depois do buraco negro eu saio vivo
Com tranquilidade para amadurecer

Já chegou Dezembro
E se eu bem me lembro
Existem planos para o fim do mês...
Já chegou Dezembro
E eu não pretendo
Virar o ano longe de vocês, amigos...
Irmãos de fé... amigos...
Família é... Amigos!"

Dezembro - Línox

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Singularidades de uma rapariga loura 92 - natureza capilar


No auge de uma juventude narcisista, que as minhas amigas tiveram a paciência de atravessar comigo até aos dias de hoje, fiz uma lista de 25 defeitos físicos que me desgostavam e partilhei com elas. A A.S. lembra-se de certeza. Parecia uma contradição mas não era: gostava de mim de uma forma tão realista que queria estar consciente de cada bocadinho que podia ser melhorado. A tal lista não sei por onde andará mas os seus itens ainda estão cá todos. Não "melhorei" nenhum.

Um dos primeiros da lista era o meu cabelo. Uma massa loira e rebelde, revolta em caracóis desordenados, sedenta de cremes e outros produtos que a mesada estudantil não alcançava. Uma chatice que dava uma trabalheira desgraçada para desembaraçar e nunca ficava como eu queria. Perdi a conta das vezes em que "aluguei" a S. para me pentear. Sempre que podia esticava-o, para contrariar a sua natureza. Achava que a natureza dele (do cabelo) não era igual à minha. A nossa relação começou desde que, tendo a minha mãe cessado funções, tive que ser eu a cuidar dele e não nos demos bem porque como eu queria outro cabelo não cuidava bem do meu e ele revoltado, tornou-se quase indomável.

Ontem, ouvi de um profissional que é chegada a altura de assumir com orgulho a minha farta (e nada discreta) cabeleira. O mesmo já me diziam amigos e familiares, e recorrendo à piada fácil: já estavam carecas de o dizer. Percebi finalmente que o que me excedia em vaidade era o que me faltava em personalidade. Acredito que ainda vou a tempo por isso comecei a cuidar do meu cabelo e a investir na reconciliação.

Pode um antigo defeito virar motivo de orgulho? Não sei, estou só na fase experimental. Espero um dia vir a dizer: "Afinal não é defeito, é perfeito!"

quinta-feira, dezembro 22, 2005

O Suave Milagre 90 - O meu Natal


o meu 33º natal
terá culinária africana e brasileira
numa mesa pouco tradicional
terá avós, tios e primos de nome, não de sangue
numa família de fé, disfuncional
e aparecerá sempre mais alguém
com menos de surpresa do que de ritual


no meu 33º natal
partilharemos histórias, fotos, lembranças
saudades de um passado tropical
haverá muitas gargalhadas e piadas
será gozão, farto e ainda assim espiritual
com cada presente aberto a competir
para o prémio de mais original


este meu 33º
sinto-o de uma forma única
seja qual for o número do vosso
façam com que seja especial.

O meu postal de boas festas!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Singularidades de uma rapariga loura 91 - Aiiiiiiii o meu director...

"Pardon the way that I stare

There's nothing else to compare

The sight of you leaves me weak

There are no words left to speak

But if you feel like I feel

Please let me know that it's real

You're just too good to be true

Can't take my eyes off of you..."

Turu turu tuturutu tururu turu tuturutu


quinta-feira, dezembro 15, 2005

Singularidades de uma rapariga loura 90 - Outsourcing

No jantar de Natal da minha empresa:
- "bar aberto"
- "algumas surpresas ao longo da noite"
- "um formato muito especial"

Para não quebrar uma regra pessoal acerca dos colegas de trabalho, valha-me o Outsourcing.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

O Suave Milagre 89 - My Fair Lady ou Mrs. Robinson?

A minha amiga A.S. acha que deve sofrer do síndrome My Fair Lady. Tal como ela, a maioria das minhas amigas tem queda para os homens mais velhos. Eu, nesse grupo, sou excepção. Devo sofrer do síndrome Mrs. Robinson. Opto quase sempre pelos rapazes mais novos, embora não seja tão voluntário como isso. Nunca um rapaz mais velho (ou deverei dizer um homem?) se mostrou realmente interessado por mim. Desde os colegas de liceu até aos colegas de trabalho, passando pelas saídas à noite, são sempre mais novos os interessados. O "mais velho" que consigo é nascidos no mesmo ano, embora uns meses à frente. Essa tendência, sinceramente, nunca saberei explicar. E seria complicada de gerir em termos de expectativas não fosse o caso de eu até gostar de rapazes mais novos. Assim sendo... tudo está em harmonia. Recebo aquilo que aprecio, e aprecio aquilo que recebo.

A princípio tudo começa por ser uma questão estética. São gostos e esses não se discutem. Há quem, como eu, ache a juventude bela, radiante e cheia de potencialidades :-), outras haverá que acham uns cabelos brancos e umas rugas muitíssimo mais atraentes. A parte mais profunda da questão vem depois (ou não).
Relativamente a essa parte não tenho certezas mas avanço algumas teorias:

Teoria 1 - O troféu
A mulher mais velha encara o relacionamento com um rapaz mais novo como a conquista de um troféu, numa inconsciente competição com as suas congéneres mais novas, do estilo: "ele podia ter todas as rapariguinhas jovens e frescas que quisesse mas foi a mim que escolheu", ou seja, apesar de ser a competidora com handicap (leia-se com rugas), saiu vencedora.

Teoria 2 - Protegida ou Protectora
Esta teoria baseia-se na crença de que só existem dois tipos de mulheres: as que querem proteger e as que querem ser protegidas. Nenhuma é melhor do que a outra, são apenas necessidades diferentes. Sendo assim, aquelas que procuram relações com homens mais novos são as que se realizam mais no papel protector. E pela ordem inversa, as que preferem os homens mais velhos são as que desejam ser protegidas.

Teoria 3 - Admiração e Audiência
A mulher mais velha procura (ainda que o negue) no rapaz mais novo a qualidade de audiência. Alguém que lhes admira e aplaude, que lhes dá a motivação e o reconhecimento que lá dentro de si mesmo não encontram.

Diz-me a experiência que os rapazes que se interessam por mulheres mais velhas até se sentem meio deslocados, preferindo a companhia de pessoas mais velhas, que se sentem mais maduros do que os outros mancebos da sua idade e que são mais as vezes em que acabam por integrar-se facilmente no grupo de amigos dela, do que o contrário. Todos os rapazes mais novos com quem me relacionei eram interessantes para mim (muito subjectivo isto do interesse), e melhor: esforçavam-se por ser. E eu sempre tive um fraquinho pelos que se esforçam, pelos que não desistem ao primeiro "não". A A.S. diz que "não gosta de coisas fáceis e que eles, os rapazes mais novos, não dão luta". Eu cá fujo desses que dão luta, detesto competição, o que eu gosto é de ser o objectivo da luta, o monte a escalar, a meta a alcançar. Os contos de fadas com princesas no cimo de torres sempre foram os meus preferidos. Simbolicamente, a torre é a questão etária e os rapazes mais novos que estão "em baixo" têm que "subir" para me alcançar. Porque na maioria das vezes não é a mulher mais velha que se comporta como uma jovem, é o rapaz que se comporta como se fosse mais velho.
A verdade é que vejo nos rapazes mais novos (mesmo nos que tentam disfarçar) uma certa "inocência amorosa", uma pureza no acreditar e na maneira como se entregam, amando como se amam grandes ideais, impetuosamente, generosamente, sem reservas, com a segurança dos que nunca sofreram. São como pedras em bruto, ainda intocadas pela inevitável erosão das relações.

Não vos digo qual das teorias é a que me veste, digo apenas que há várias histórias de mulheres mais velhas com rapazes mas novos que são histórias felizes e a minha é só mais uma delas.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

O Suave Milagre 88 - The Greatest Show on Earth


Disse-me a minha tia C. que o meu avô Joaquim, que não cheguei a conhecer, gostava muito de circo.
Recentemente e sem estar a contar, assisti a duas actuações artísticas classificadas como "circo".
Fez-se um clique, ligou-se qualquer coisa dentro de mim e então resolvi. Na lista daquilo que faria se ganhasse o Euromilhões, entre ajudar a família alargada e os muitos amigos, mais as duas instituições beneficentes que iria fundar, há uma coisa que eu faria (ia ser considerada infantil e provavelmente mal interpretada): iria montar o meu próprio circo!
"Tu que te armas em defensora dos bicharocos ias patrocinar um espectáculo altamente associado à exploração dos animais?" "Que passam fome e actuam acorrentados?" "Fora do seu habitat?"
Já antevejo algumas caras... calma que primeiro tenho que ganhar o prémio e depois, o circo não são só os animais. Aliás, a parte que me diz mais até é o trapézio...e os trapezistas... e aquela coisa que tem de tradição familiar, como todo o resto do circo tem.

Desde que me lembro que o mundo do circo sempre me fascinou e a palavra fascínio aqui não é exagero. Até é pouco. Não sei como esse interesse começou, o mais longe que consigo ir nas recordações é ter ido atrás do palhaço das andas que fazia a publicidade e passou na minha rua. Segui-o em estado letárgico até ter quase saído da cidade. A partir daí não existiam férias sem circo, com bilhete ou à socapa, férias era sinónimo de circo. Mas os meus amiguinhos não alinhavam, uns porque tinham medo dos palhaços e das "feras", outros diziam que era sempre igual todas as noites, que não tinha graça e havia também aqueles que não gostavam porque era "de pobre". Foi uma das minhas poucas afirmações de personalidade naquela altura, senão mesmo a única.

Lembro-me também de ter visto o filme "The Greatest Show on Earth" e de como me marcou o drama daquela família de trapezistas. Este filme de Cecil B. DeMille em 1952 chegou a ganhar o Óscar de melhor filme e melhor argumento, mas isso é material para a Fábrica Lumière. Já adulta, li "O salto mortal" da Marion Zimmer Bradley e o drama de outros trapezistas me emocionou, ainda que de forma diferente. Chego a pensar se haverá trapézio sem drama e se virá daí a minha atracção.

Continuo a gostar muito de circo. Bem, é um pouco mais do que gostar... é um sentimento de pertença, tenho saudades do circo quase como o emigrante tem saudades da terra natal. Debaixo da enorme tenda, deixo as lágrimas cairem felizes entre o barulho das crianças, sento-me nas tábuas de madeira como se fossem o mais confortável dos assentos, inspiro todos os cheiros até ter serradura nos pulmões e olho para os artistas como se procurasse reconhecer velhos amigos. Mais do que entreter eu vou ao circo para me enternecer, para me amaciar a alma, para me sentir um bocadinho mais completa. E esta altura do ano é muito boa para isso aqui na zona da Expo.

Esta minha sensibilidade ao circo é um mistério... até para mim.