Acalmada que está a minha veia Zanatti, com a devida ressalva que só existe uma única miúda que a faz pulsar, retomo o habitual interesse pelo puro lusitano.
Acontece que trimestralmente é-me assignada uma tarefa que me obriga a passar pelo menos duas tardes no armazém (enorme) da empresa onde trabalho. E é cheia de vontade que me atiro a esta tarefa e me predisponho a disputá-la no tapa com quem me quiser substituir. Sem falar na vantagem em mudar de ares e nos benefícios físicos de tirar a fofura da cadeira e os olhinhos do monitor, ainda há a benesse de privar com os colegas que trabalham no armazém. Malta nova, claro está, alta e espadaúda, exalando juventude e saúde, malta sem óculos e sem manias, malta assim mais terra-a-terra, no extremo oposto dos betinhos do Marketing e dos cromos dos Informáticos. Malta fixe, se é que me entendem. Para mim, que trabalho num departamento submerso em gloss é um verdadeiro alívio estar no meio daquela testosterona toda.
Gosto especialmente de sentir que eles mudam ligeiramente o seu comportamento por causa da minha presença, gosto de reparar que lhes ficam uns "carvalhos" e "folhas" por dizer, que fazem sinais uns aos outros com o canto do olho, que a minha presença não só não os incomoda ao ponto de ser indesejada como até é bem-vinda.
Sem que ninguém descure (muito) o trabalho, os rapazes de vez em quando vão ter comigo para dois dedos de conversa com o pretexto do cigarrinho, perguntar se quero ajuda, mostrar solidariedade com o frete que me calhou e coisa e tal. Eu apareço ao pé deles para saber que horas são, para pedir mais fita-adesiva ou envelopes, para queixar-me do frio e perguntar como é que aguentam (acentuando o lado heróico da coisa), abano os folhinhos da saia e depois volto lentamente para o meu lugar.
Enfim, como eles estão em larga maioria eu tenho mesmo que exagerar na minha feminilidade para equilibrar a energia lá do sítio. Acho até que devo fazê-lo, que eles secretamente agradecem o facto de verem o meu treinado pestanejar no Clube do Bolinha, de vez em quando. E assim, com espírito de missão e porque os rapazes merecem, dou o meu melhor.
Nessas duas tardes, formamos um grupo de trabalhadores bem dispostos, simpáticos e sorridentes. (Há um deles, especialmente, que tem um sorriso digno de poster em clínica dentária e acredito que com um banho de loja o rapaz iria longe).
Hoje, na hora da despedida, não pude deixar de pensar numa amiga minha e no que ela vai dizer deste post, ela para quem a testosterona não vale se não for acompanhada da massa cinzenta, enquanto eu, nisso dos acompanhamentos peço sempre um bom coração, que se encontra num bom rapaz (agora é que a minha amiga vai sorrir). Não sendo uma fundamentalista do intelecto, valorizo mais que saibam fazer-me rir do que explicar-me a Crítica da Razão Pura, mas se souberem quem foi Kant já está de bom tamanho.
Em Abril estarei lá de novo, no armazém, e vocês já sabem o que se diz da Primavera...