sexta-feira, dezembro 22, 2006

O Suave Milagre 127 - Bons Reencontros e Felizes Abraços

"...So I sing for you
Though you can't hear me
When I get through
And feel you near me
I am driving home for Christmas
Driving home for Christmas
With a thousand memories…"



Chris Rea: Driving Home For Christmas

quinta-feira, dezembro 21, 2006

O Suave Milagre 126 - Primeiros balanços

A lição mais dura do ano: perdoar a quem não me pede perdão.
A lição mais valiosa do ano: é da posição de vítima que melhor se perdoa.
Aprendi-as juntas. No mesmo dia em que me "deram" esta canção:

"No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu:
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
Que o destino
Sempre me quis só
No deserto, sem saudade, sem remorso, só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu
Reuniu-se à terra um instante por nós dois
Pouco antes do Ocidente se assombrar."

Inverno - Adriana Calcanhoto


Adriana Calcanhoto...

segunda-feira, dezembro 18, 2006

O Suave Milagre 125 - O detalhe

Para mim não há Natal sem o gosto da cola dos envelopes na boca. É que não há mesmo. É mais forte do que eu. Todos os anos penso que não vou enviar mais cartões, que não vou ter tempo, que já ninguém liga a isso, debato-me entre argumentos racionais e emocionais, e quando dou por mim já estou outra vez na estação dos correios, com o coração quentinho e com cara de parva.

Na minha casa todos os anos compravam-se postais de Natal. Depois a família sentava-se à mesa (normalmente depois de um demorado pequeno-almoço de Domingo) para escrever os postais e desejar Boas Festas à família de longe e aos amigos de perto, amigos em que uma família toda é amiga de toda a nossa família. Normalmente os cartões eram acompanhados de uma foto recente das crianças, e assim que as próprias já sabiam escrever o seu nome começavam a assiná-la atrás. Era uma actividade de família e em família, todos participavam.

Por outro lado, os postais que a nossa família recebia eram expostos como parte da decoração de Natal, e até mesmo pendurados na árvore, até serem guardados numa caixinha de sapatos. Sei que a minha mãe ainda tem postais desses, com fotos dos meus primos e de outras crianças, e sei também que ainda tem uns que eu assinei com a minha letrinha de 8 anos, sentindo-me tão importante. Numa mudança de casa, colocou-se a hipótese de deitá-los fora, ao que a minha mãe respondeu: "amor não se deita fora".

Eis porque que não consigo e porque não quero deixar essa tradição.
Porque ela aproxima-me dos meus pais e mantém-nos unidos.
Porque faz parte de quem eu sou e de quem quero continuar a ser.
Porque enquanto a mantiver, o meu Natal estará completo e mesmo faltando muito, vivo-o como se não lhe faltasse nada.
Porque, como sabemos eu e a minha prima S., o amor está nos detalhes.
Porque se o amor está nos detalhes, Ele também está.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Singularidades de uma rapariga loura 127 - Os duros, os moles e a impostora

Ah, o Norte, o Norte... por mais anos que viva e conviva com o Norte, haverá sempre coisas que me escapam.
Na aldeia minhota para onde vou aos fins-de-semana ouvi chamar "impostora" a uma bebé de 2 mesinhos, por mais do que uma pessoa. Chamaram-lhe isso quando ela parou de chorar por pegarem-na ao colo. Como me explicou um minhoto "as gentes no Norte são rudes porque aceitam que a vida é dura e não tentam furtar-se a isso". Em resposta ao meu protesto chamaram-me mariquinhas, frasquinho-de-cheiro, flor-de-estufa e outros mimos, que com orgulho aceitei, a todos agradeci e continuei achando que era uma palavra forte demais para uma bebé.
Quem é que lhes disse que a miúda só podia chorar por causa da fralda e da comida? E se lhe doessem as costas de estar sempre na mesma posição? E se estivesse com frio? E se tivesse uma comichão na perna? E se apenas quisesse olhar para outra coisa sem ser o tecto? E se quisesse mesmo colo?
Como não estava autorizada a pegar na "impostora", aproximei-me dela e disse-lhe baixinho: "a vida nem sempre é dura, minha querida, mas prepara-te porque eles são".

"Hay que endurecer-se, pero sin perder la ternura jamás!" (Ernesto Che Guevara)