Para mim não há Natal sem o gosto da cola dos envelopes na boca. É que não há mesmo. É mais forte do que eu. Todos os anos penso que não vou enviar mais cartões, que não vou ter tempo, que já ninguém liga a isso, debato-me entre argumentos racionais e emocionais, e quando dou por mim já estou outra vez na estação dos correios, com o coração quentinho e com cara de parva.
Na minha casa todos os anos compravam-se postais de Natal. Depois a família sentava-se à mesa (normalmente depois de um demorado pequeno-almoço de Domingo) para escrever os postais e desejar Boas Festas à família de longe e aos amigos de perto, amigos em que uma família toda é amiga de toda a nossa família. Normalmente os cartões eram acompanhados de uma foto recente das crianças, e assim que as próprias já sabiam escrever o seu nome começavam a assiná-la atrás. Era uma actividade de família e em família, todos participavam.
Por outro lado, os postais que a nossa família recebia eram expostos como parte da decoração de Natal, e até mesmo pendurados na árvore, até serem guardados numa caixinha de sapatos. Sei que a minha mãe ainda tem postais desses, com fotos dos meus primos e de outras crianças, e sei também que ainda tem uns que eu assinei com a minha letrinha de 8 anos, sentindo-me tão importante. Numa mudança de casa, colocou-se a hipótese de deitá-los fora, ao que a minha mãe respondeu: "amor não se deita fora".
Eis porque que não consigo e porque não quero deixar essa tradição.
Porque ela aproxima-me dos meus pais e mantém-nos unidos.
Porque faz parte de quem eu sou e de quem quero continuar a ser.
Porque enquanto a mantiver, o meu Natal estará completo e mesmo faltando muito, vivo-o como se não lhe faltasse nada.
Porque, como sabemos eu e a minha prima S., o amor está nos detalhes.
Porque se o amor está nos detalhes, Ele também está.