No bairro onde moro há uma avó muito enérgica, faladora e com uma voz estridente.
Encontro-a em muitas das minhas manhãs no café da esquina e para além da cafeina é ela que me faz acordar, mesmo quando fala para o neto ou para a senhora do balcão. Comigo ainda não houve diálogo, embora ela já tenha tentado.
Hoje quando descia a rua em direcção ao café, vi que ela entrava lá de mão dada com o neto. Continei a caminhar nitidamente mal disposta, pois antevia a "festa sonora" que me aguardava.
Então o grilo falante começou: "tem paciência, treina a tolerância, já reparaste como a voz dela parece com a da tua avó? Ela podia ser tua avó e tu já foste da idade daquele neto e adoravas a companhia dela nessa altura."
Entrei no café e dei-lhe um sorriso sincero, o primeiro depois de vários encontros. Bebi o café, paguei e quando estava a sair, ouvi: " Quer pão, dona Domingas?"
A frase acertou-me em cheio, porque ela tem o mesmo nome que a minha avó.