quinta-feira, março 02, 2006

O Suave Milagre 101 - Promessa

Ele tinha os olhos mais escuros que ela algum dia vira, de um negro profundo. Ela tinha olhos de gato, amarelo-esverdeados, que ele sabia não serem confiáveis. Ele era grande, quente, com o corpo em vários tons de castanho e sabia a mel. Ela era ondulada, leve, de um cor-de-rosa marmóreo e era salgada.

Conheciam-se há muitos anos, trocavam olhares de Segunda a Sexta, palavras indirectas em público e directíssimas em privado, mas sem nunca se tocarem. Não eram livres. Prometeram que se algum dia se separassem o outro seria a primeira pessoa a quem contariam.

Estavam na casa dele quando misturaram as cores e provaram os sabores. Ele ainda dormia enquanto ela andava pela casa à procura de papel e caneta para escrever um bilhete e ia pensando que tinha acabado de fazer algo que havia condenado tanto, que lhe tinha sido difícil entender nos outros, e mesmo assim... tinha sido tão fácil. E tinha sido tão bom. E tinha valido tanto a pena. E não, a consciência não lhe pesava, como se aquele encontro não tivesse como não deixar de ser, como se fosse inevitável ter acontecido.

Ele acordou e leu: "Cumpriste a promessa. Eu também. Não há o que perdoar."

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Andámos a prevaricar ... :)

9:24 da manhã  

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