O Suave Milagre 85 - "Nothing's gonna change my world"
Acordei quando o corpo achou que já chegava porque os rins já doíam. Servi o pequeno-almoço para mim e para o gato: pão, queijo, sumo, fruta, café acabado de fazer e paté de gambas. Resolvi deixar o sol entrar em força pela casa toda. Arrumei a cozinha, a sala e fiz a cama, tudo ao som de Norah Jones. Pus protector solar, estreei o biquini novo e as sandálias que mamãe mandou do Brasil. Fiz um bocadinho de preguiça com o gato e depois saí de casa. Fui passeando devagar, olhei bem para minha rua e para as outras ruas do percurso, vi os enfeites pendurados nas janelas, as plantas e os animais da vizinhança.
Apanhei o comboio para Cascais. Há muito que eu gosto de fazer este percurso ao longo do rio e do mar. É mesmo uma das coisas que eu mais gosto de fazer sozinha, seja inverno ou verão. Esta nossa avenida marginal é muito linda (mesmo em Cannes continuava a gostar mais desta).
Compro o jornal e um gelado a caminho da praia. Começo a ouvir o barulho das crianças, vejo namorados adolescentes aos beijos e desejo ser invisível para poder movimentar-me à vontade nesse cenário, observando tudo ao pormenor, como se tivesse entrado numa pintura.
O mar está mesmo ali à frente e a linha do horizonte acalma-me, como sempre. Respiro fundo e vou caminhando com um sorriso que não consigo tirar da cara, nem quero.
Mergulho, apanho sol de frente, espreguiço-me, vou outra vez mergulhar, apanho sol nas costas, leio o jornal, ponho protector solar, mais mergulhos, apanho sol de frente, leio o jornal, apanho sol de costas...
No regresso admiro a ponte, o Cristo-rei, penso na A. que mora em Almada e nessa altura quase que acenava de tão alheada que estava nos meus pensamentos. Antes de chegar a casa paro no restaurante chinês e peço uma dose de massa de arroz com gambas para levar. Entro em casa, o gato lambe-me o sal das pernas. Tiro o resto no banho. Decido rever um filme, um velho conhecido de quem tenho saudades, para provocar certas emoções (rio-me e emociono-me sempre nas mesmas cenas).
Chego ao fim do dia com uma sensação de plenitude, como se tudo estivesse bem, no seu devido lugar e não fosse preciso nem eu quisesse mudar nada, nem um milímetro na minha vida actual. É uma sensação fugaz da mais pura felicidade. Seja o que for que me espera no futuro, o que eu quero é continuar a tirar prazer de pequenas coisas que faço sozinha e de me reordenar através delas, a mim e ao meu mundo.
"Sounds of laughter, shades of life are ringing
Through my opened mind, inciting and inviting me
Limitless, undying Love which shines around me like a million suns
It calls me on and on
Across the universe...
Jai guru deva om
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world..."
"Across the Universe" - The Beatles (há também uma belíssima versão do Rufus Wainwright).
1 Comments:
Não é preciso muito para termos instantes felizes, pois não ?
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