terça-feira, março 23, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 29 - filme

prometi aqui e vou cumprir a seguir:

numa manhã o muro em frente ao colégio
apareceu com a seguinte inscrição a graffiti preto:
"Pitula amo-te!"
nesse dia e nos dias seguintes
nenhuma de nós conseguiu concentrar-se nas aulas
faltamos a umas e nas outras a que assistimos
passamos o tempo todo a trocar bilhetinhos
aquele impulso romântico era uma promessa de originalidade
parecia-nos óbvio que devia ser alguma aluna do colégio
devido à localização da mensagem, mesmo em frente à porta principal
mas aquele nome não nos dizia nada
a novidade foi assunto contínuo e inesgotável por umas duas semanas
já havia quem sonhasse que era a tal (acordada ou a dormir)
quem fizesse apostas, quem lançasse boatos,
quem tivesse certezas, mas nenhuma prova aparecia
a eleita podia ter a garantia de uma grande popularidade
numa noite eu e as minhas amigas estavamos sentadas no ginásio
depois da aula de basquetebol, com os cabelos desgrenhados,
os rostos suados e aqueles ténis pouco femininos
quando aparece o "espanhol", um miúdo giro e simpático
que se tinha mudado com a família há uns meses para a nossa cidade
então oiço-o dirigir-se a mim:
- Boa noite Pitula...
olhei para as caras à minha volta
senti que todo o meu sangue estava concentrado no meu rosto
o silêncio era quase palpável
até que uma amiga minha disse:
- Vá lá, diz o resto...
ele não disse o resto e eu nunca cheguei a dizer-lhe
que aquele filme em que fui a protagonista
será sempre uma das mais belas recordações da minha vida