segunda-feira, maio 07, 2007

O Suave Milagre 139 - O tipo de felicidade...

… que senti hoje ao tropeçar nesta musiquinha que eu adoro, numa versão inesperada mas bem a propósito, seguindo o impulso irresistível de me imaginar rodopiando descalça e envolta em panos coloridos, com pétalas de flores e um cheiro doce de baunilha à volta, sentindo uma alegria fluida e morna que rapidamente transbordou vazando pelos dedos, escorrendo sobre o teclado e desaguando num 'publish' é uma felicidade que se impôs partilhar.

Porque partilhar é preciso.


Pascal Of Bollywoo...

quinta-feira, maio 03, 2007

Singularidades de uma rapariga loura 151 - Olhem de lado mas olhem para mim

No nordeste brasileiro da minha infância havia um adjectivo que eu rejeitava. Incomodava-me quando me chamavam de 'amostrada' porque isso significava que era exibida, exagerada, descarada. Mas hoje, pensando bem, se 'amostrada' é 'aquela que se mostra' eu era mesmo uma menina muito 'amostrada'. Desde as incansáveis performances artísticas na escola e na família até declarar o meu amor e pedir o professor de Matemática em casamento, ficou claro que a timidez e o recato não eram os meus maiores encantos.

Cresci e continuei a não me importar que olhassem para mim. Até me divertia chegar atrasada às aulas e, com a sala cheia, passar em frente ao retroprojector de modo a que ninguém pudesse ignorar que eu tinha chegado. Nunca procurei visuais que me fizessem passar despercebida, muito pelo contrário, o meu objectivo era que me vissem nem que tivesse que aparecer de t-shirt em pleno inverno da Serra da Estrela ou com uma farta cabeleira de trancinhas de estilo afro. E também há quem recorde, passados muitos anos, um certo kispo de penas roxo e umas calças com flores rosa choque que, convenhamos, nem toda a gente teria personalidade para usar.

Foi preciso chegar aos 35 e estar temporariamente a usar muletas, que não são um acessório propriamente discreto, para me reconciliar com esta minha faceta 'amostrada'. Houve muitas alturas (e ainda vão haver outras tantas) em que ser assim me trouxe alguns dissabores e más interpretações. Alturas em que desejei ser uma pessoa mais discreta, mais comedida, mais recatada e até tentei mudar, mas sem um sucesso duradouro. Agora que passo os dias a coxear, a agradecer que me abram as portas, que me tragam a água, o café ou as fotocópias, a responder como é que foi, quando é que foi, onde é que foi, se dói e a mostrar o meu pezinho (que mesmo inchado é lindo) a uma média de 50 pessoas por dia, chego à conclusão que 'amostrada' afinal quer dizer 'aquela que se mostra porque é muuuuuito segura de si'.