quarta-feira, dezembro 29, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 63 - no ano que vai nascer

2004 está quase a acabar e já tenho um calendário e uma agenda novos, prontos para o virar de página.
Mas esses dois objectos só ajudam a contar o tempo, a marcar as datas e a organizar o que pode ser organizado.
Quanto a tudo o resto, sem sentido de orientação que me valha, agarro-me ao que posso: superstições, tradições, previsões astrológicas, balanços e listas de resoluções para o novo ano.
O Balanço: 2004 foi para mim o ano do puzzle, que continua por fazer. Sem ter sequer a certeza de ter todas as peças necessárias fui tentando compor a figura. Fui aprendendo que não adianta forçar o encaixe de peças erradas, tentando preencher com sentido os vazios e por vezes com peças em excesso para pequenos espaços. Foi um ano de trabalho paciente, de estudo, de pesquisa, de observação, de investigação e muito mais importante que isso: um ano de experimentação. E graças a todas as tentativas frustradas, erros, improvisos e rasgos de lucidez a figura do puzzle acaba o ano bem mais composta do que começou, por isso tenho mesmo que continuar a tentar e a experimentar para um dia conseguir completar esta imagem, que é perfeita para mim.
A lista de resoluções para 2005:
- querer o melhor para mim, batalhar por isso e não me contentar com menos.
- dar o melhor de mim, todos os dias.
- assinalar convenientemente o aniversário do blog em Janeiro.
Sigo para Norte, onde direi adeus ao ano velho e darei as boas vindas a 2005.
A todos que aqui passarem desejo um feliz ano novo.

terça-feira, dezembro 28, 2004

O Suave Milagre 67 - prendas sem embrulho

Esta natal, pelo menos eu e uma amiga minha recebemos uma "prenda sem embrulho".
A minha foi entregue num centro comercial apinhado de gente em plena manhã de 24 de Dezembro, com um toque no ombro e um: "olá, comprando as prendas sozinha? eu também..."
Um encontro marcado pelo acaso e uma prenda que incluia bilhetes para reviver um passado não muito distante através das boas recordações de um romance. Olhaste-me bem, mexeste no meu cabelo sem cerimónias e eu pensei: "quem sabe com ele?". Trocámos sinais de que ainda ocupamos um lugar especial na memória um do outro. Era mesmo isto o que eu precisava, adorei, obrigada.
Durou vinte minutos a minha "prenda sem embrulho" e só no final da noite pude abrir as outras prendas, com os seus laçarotes e fitas. Mais ou menos pela mesma hora a prenda da minha amiga foi entregue via telefone, num quarto de criança, quando ela achava que já tinha recebido tudo.
Será que toda a gente recebe "prendas sem embrulho"? Será que percebem?
E será que agradecem a prenda ao menino Jesus?

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 62 - postais de natal

Quem me conhece há algum tempo sabe que eu tenho por hábito enviar postais de Natal.
Pelos correios. Escritos à mão. E sempre me deu muita alegria escolhé-los, escrevé-los, enviá-los, todos os anos. Há mesmo quem espere por eles, quem conte com isso.
Ainda não enviei nenhum postal de natal, nem vou enviar.
Não sei bem porquê. Não posso culpar a falta de tempo porque tive mais ou menos o mesmo tempo que nos outros anos.
Sinto que foi algo que não me apeteceu fazer este ano, não estava inspirada, não tive vontade, não quis.
Para o ano talvez retome a tradição.
Em 2004 fica aqui no blog o meu desejo de um Santo Natal, cheio de paz e harmonia a todos que passarem por aqui.

Há no entanto um nome especial que não vai passar por aqui, que não faz parte de nenhuma lista de prendas nem de postais, mas que entrou na minha vida este ano e para ficar. Pelo modo como destruiu o arranjo lá de casa, calculo que não ligue nenhuma ao natal, mas se o gato ruivo Merlin compreendesse era isto que lhe escreveria no postal de natal.

"O gato é uma maquininha
que a natureza inventou
tem pelo, bigode, unhas
e dentro tem um motor
Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico
É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão
No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse
Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença, é carinho."

O ron-ron do gatinho - Ferreira Gullar

quarta-feira, dezembro 22, 2004

O Suave Milagre 66 - Receitas de Natal

Já estou farta de ser chamada de sonhadora romântica sem os pés no chão, de bobinha idealista, de ingénua e outras coisas do género mas se tudo isto corresponde a alguém a quem realmente custa saber de separações, eu aceito. Podem rotular, carimbar, selar e o que mais quiserem.
Custa-me mesmo ver terminar relações, principalmente aquelas que vi começar.
É com esforço que engulo a notícia, cai-me pesada na alma e levo tempo a digerí-la.
Não importa o estado civil nem o tempo da união, apego-me ao casal e ao que eles significam enquanto juntos, a uma "entidade" única.
Claro que mantenho a mesma intensidade na ligação individual a A e a B, mas o que me custa é já não haver o resultado de A + B. (salvo as excepções em que A e B reatam...)
Vejo à minha volta o número de separações aumentar, umas com grande pesar, outras com leveza, umas com sinais de alerta, outras com total surpresa. Procuro exemplos de gente feliz nas relações e receitas para estas que sejam feitas de material mais resistente.
Mas não quero exemplos das gerações anteriores à minha, esses também eu tenho. Quero exemplos de casais da minha geração, dos dias de hoje, com o mesmo tipo de vida que eu, mesmo que tenham um grande "ainda" pendurado por cima das cabeças.
Tu explicaste-me que as pessoas estão cada vez mais exigentes, que fazem menos sacrifícios e que muitos casais não teriam resistido ao que já passámos nestes quase dez anos. Concordámos que tudo seria mais fácil se... e que queremos continuar juntos apesar de... Talvez porque o que sentimos um pelo outro é um nadinha maior que os obstáculos e faz com que valha a pena superá-los.
Eu expliquei-te que acredito que a felicidade, tal como a verdade, é subjectiva porque é necessariamente individual. Ou seja, depende de nós.
Tem a ver com o que fazemos com os ingredientes que a vida nos dá, como os misturamos, em que ordem, em que quantidades...e se sabemos esperar que a nossa felicidade fique no ponto, que levede, que cresça ou que fique cozida.
Conheço pessoas que conseguem fazer verdadeiros festins ao longo da vida e outras para quem os mesmos ingredientes nunca chegam, não são bons o suficiente ou simplesmente não conseguem esperar para depois saborear.
Junto a tua parte à minha e tenho uma receita caseira de estabilidade e felicidade, segredo da casa. É certo que nos faltam ainda muitos ingredientes para a próxima ceia de Natal mas faremos um banquete com os que temos disponíveis.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 61 - the edge of reason

Fui ao cinema ver uma comédia romântica com uma amiga cuja visão das relações é muito diferente da minha.
Ela é inteligente, culta e de raciocínio rápido. Eu sou bem mais lenta e preciso de tempo para digerir a informação antes de reagir ou opinar.
Ela é uma mulher moderna, realista, prática e com um encanto meio misterioso, não fosse ela a do "segredo mais bem guardado do mundo".
Eu sou uma rapariga tradicional, sonhadora e crente, não fosse eu a dos "suaves milagres".
(só agora me apercebo que ambas temos referências literárias no nome do blog).
Tenho a certeza que as nossas conversas antes, durante e depois do "Diário de Bridget Jones 2", cada uma com o seu cigarrinho, foram tão boas para ela como foram para mim.
A minha amiga C. gostou especialmente de descobrir o que veio a seguir ao "happy end" do filme anterior e eu gostei mais do duelo Darcy X Cleaver. O cinzentão e o colorido. A estabilidade e a aventura. O certo e o duvidoso.
Ambas concordamos com descoberta da protagonista de que ninguém é ideal para ninguém e tal como a Bridget também nós parecemos ter chegado a "the edge of reason".
A C. começa a acreditar que pode ainda haver amor depois de um ou mais finais felizes (mesmo que o rosa-choque dê lugar a um rosa velho).
E eu finalmente compreendo melhor (mas não totalmente) o meu contido "Mr. Darcy" por tudo o que ele fez por mim e que eu ainda não sei, porque provavelmente ninguém mais sabe.
Por todas as vezes em que ele não me defendeu em público, deixando como resposta ficar ao meu lado todos estes anos.
Por não me pedir para mudar nada, mesmo quando eu estrago tudo tentando ser alguém de quem ele goste mais.
Por aguentar estoicamente todas as crises que passamos, as reais e as imaginadas por mim.
O que eu continuo sem perceber é porque a C. parece sempre tão desconfiada em relação ao amor e o que a minha amiga continua sem perceber é porque que eu ainda quero tanto casar.