quinta-feira, outubro 21, 2004

O Suave Milagre 64 - exagerada

- "Pai, pai! Hoje eu vi na praia uma onda tão grande, com uns trinta metros!
- Não pode ser, pensa lá bem....trinta metros é muito, não é?
- Pronto, pronto....então foi uma onda com trinta centímetros!"

Desde tenra idade que se manifestou em mim esta total incapacidade em compreender as medidas e também esta tendência para o exagero. Já te tinha explicado isto.
Contam os meus pais que eu era uma criança muito dramática: ou chorava como se o mundo fosse acabar ou entrava em euforia histérica por um simples saco de rebuçados.
É tudo uma questão de intensidade e eu tenho uma régua especial para medí-la.
Hoje, já adulta, dizes-me que abuso das palavras máximo e máxima no dia-a-dia.
Que faço elogios demasiado rasgados aos que conheço bem e aos que acabei de conhecer.
Que é um exagero esta alegria explosiva com tão pouco...
e que não compreendes como fico triste e melancólica com menos ainda.
É tudo uma questão de intensidade e eu tenho uma régua especial para medí-la.
Não tentes arranjá-la nem substituí-la.
É por causa dela que basta apenas "uma" palavra tua para nascer em mim um sorriso de criança.
É por por causa dela também que às vezes me fazes sentir boba, insignificante e dispensável.
Não interessa se foste a razão de umas quantas lágrimas, o que importa é que ontem me surpreendeste com ternura.
E foi com pouco, não foi? Olha que sorte eu ser assim exagerada...
Nunca saberei ao certo a altura daquela onda, mas também não é relevante.
Naquele dia na praia, para mim, era uma onda enorme, um gigante para os meus 7 anos, era a força da natureza em todo o esplendor de um oceano, mesmo que ninguém mais se apercebesse.
É tudo uma questão de intensidade e eu tenho uma régua especial para medí-la.

sexta-feira, outubro 15, 2004

O Suave Milagre 63 - lembrete

"Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Quando queremos nós ter um sorriso maior."

Da Weasel - Casa (Vem Fazer de Conta)

quarta-feira, outubro 13, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 58 - original sound track

Até ao próximo artista mantenho o "repeat" no album Folklore da Nelly Furtado.
Vou saboreando as melodias e lendo os poemas até sentir uma certa empatia, uma certa intimidade com os temas. É nesta fase que começo (quase com sofreguidão) a associar as músicas a situações, pessoas, sensações, como se eu fosse a tradutora iluminada de um linguagem desconhecida. Como se eu fosse a responsável pela banda sonora de um filme cujas cenas não fazem sentido, ou não estão completas, até que recebam a adequada música de fundo. Já nem me lembro quando começou esta mania das bandas sonoras, ou talvez até me lembre. Talvez tudo tenha começado por volta dos meus 13 ou 14 anos, com o filme "Summer of 42" (Warner Bros. - 1971) e com a música instrumental de Michel Legrand. Aquela música representa toda a melancolia, todo o peso da minha adolescência e assim permance arquivada até hoje, primeiro no LP de vinil e depois no CD que a A. me ofereceu. Hoje, ouvindo Nelly Furtado, mais uma vez não resisti ao apelo e encaixei um dos temas ao dilema actual de uma amiga. Ela sorriu com esta minha mania mas não é que a canção fazia mesmo sentido?

quarta-feira, outubro 06, 2004

O Suave Milagre 62 - espectadora

Estivemos todos juntos: nós os amigos, os nossos parceiros e nossa sobrinha.
Ela (a Clarinha) é uma criança tão bela que emociona, e dei por mim a pensar na fragilidade dos suaves milagres e no meu papel de espectadora que acredita neles.
Completamente embevecida, ouvi aquele grupo empolgado numa tertúlia não programada, discutir política e economia, literatura e cinema, televisão e rádio, moda e viagens (e pelo meio contar umas piadas picantes). Ri-me com eles, pensei com eles, aprendi com eles. Cada um com o seu estilo pessoal, as suas ideologias, as suas experiências, os seus gostos e as suas opiniões. Pela segunda vez, no mesmo dia, fiquei emocionada e novamente pensei no meu papel de espectadora.
Estava tão orgulhosa daquela bebé linda e sorridente, como se tivesse contribuido alguma coisa para a existência dela.
Estava tão orgulhosa daquele grupo de gente jovem, bonita, inteligente e interessante, como se tivesse algum mérito nas qualidades deles.
O que eu tenho é sorte, muita sorte e muito orgulho. Não fui eu que os fiz, mas eles são meus.

Singularidades de uma rapariga loura 57 - Wilma!!!!!

Apercebi-me que é aqui que está o meu "São José de Azulejo" e ao ler os comentários quero agradecer a todos os que mantiveram "dois braços à minha espera".
Vou arejar a casa e por uma música adequada....depois saio para as visitas.
beijinho.

O Suave Milagre 61 - falsa partida

Dizem-me que o melhor de viajar é regressar a casa. Deve ser mesmo, pelo menos para os meus companheiros na viagem aos Açores. Regresso com eles e assisto a uma subtil mudança nos seus humores e comportamentos mal colocam o pé na região da terra natal e vão a caminho de casa. Tu também. Sorris e falas de modo diferente dos últimos dias, a tua pronúncia fica mais acentuada, as expressões e os gestos contidos libertam-se, estás nitidamente mais à vontade, estás em casa. É como que um "alívio-nervoso" que te faz rir por tudo e por nada, visivelmente bem-disposto, satisteito e descansado por tudo permanecer no seu lugar e por estares de volta. De volta a esse lugar onde te sentes seguro, confortável, que é parte integrante de ti. (terás realmente saído?).
Não sei se o melhor de viajar é regressar a casa, não faço ideia do que sentes, só posso imaginar ao observar-te. Faltam-me as raízes e falta-me esse "lar-doce-lar" para onde regressar. A casa onde moro é só isso mesmo: a casa onde moro e a casa dos pais, apesar de manter a mesma distância dos olhos, está cada vez mais longe do coração. E como não sinto nada parecido com o que tu sentes, em lugar nenhum que conheço, continuo a preferir o novo ao "ninho", pelo menos até haver "ninho". Há muito que levantei âncoras e anseio pelo excitamento de chegar a lugares novos, tábuas rasas para sensações desconhecidas. Curiosamente, é no desconhecido que me sinto mais segura....mais livre e confiante. Como se o "familiar" me fragilizasse. Para uma optimista nata como eu, no novo há a eterna possibilidade de ser bom, de correr bem, de dar certo! Pode-se começar outra vez, do zero, pode-se tentar fazer mais e melhor, como se tudo para trás tivesse sido uma falsa partida. Talvez tenha sido mesmo. Ainda não sei o que achas dos versos que eu fiz.