sexta-feira, julho 23, 2004

O Suave Milagre 57 - nós e eles

não sei porque deixo (espero) que seja o Jorge Palma a falar por ti,
que sejam as palavras dele (e não as tuas) a trazer-me de volta
daquele cantinho secreto onde tantas vezes (hoje) me escondo de ti
quando finalmente vês mágoa nos meus olhos (esses que não te enganam)
dos teus lábios nada sai, mas (quase sempre) o Jorge canta
fazendo chegar aos meus ouvidos o que a tua boca não consegue (sabe) dizer:
"...és bem vinda, amor se ainda te apetecer...tal aventura..."
"...sem ti eu não tenho norte, sem ti eu não sei amar..."
tu mostraste-me Jorge Palma e através dele, um retrato teu
eu mostrei-te Mafalda Veiga e com ela, a minha tradução.

"Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito de alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão"

Tatuagens
(letra e música de Mafalda Veiga - dueto com Jorge Palma)

Singularidades de uma rapariga loura 55 - Titanic

na próxima vez que me vires
e vieres seguro e sorridente direito a mim
serei o iceberg que vai levar ao fundo a tua presunção.

sexta-feira, julho 16, 2004

O Suave Milagre 56 - mais

amo-te mais quando acordas ao meu lado
mais do que em todas as outras alturas
ah, como eu adoro ver o teu acordar
lento, vulnerável, desarmado, meu...
muito mais meu do que no resto do tempo
amo-te mais quando te espreguiças
como se estivesses num sonho à minha procura
chamando por mim de olhos fechados
não pelo meu nome de baptismo
mas pelos nomes que só existem na tua voz
amo-te mais quando te vejo despertar
porque só nesse momento existe a verdade
do quanto precisamos um do outro
quando despidos do nosso orgulho
tu deixas que te penteie as sobrancelhas demoradamente
e eu amo-te mais que à minha liberdade.

quinta-feira, julho 15, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 54 - e assim acontece

ontem fui a mais uma quarta-feira cultural.
tinha andado toda a semana a pensar que o Carlos Bica era fadista
(não sei de onde tirei esta ideia fixa de que o nome dele soava a fado...)
bem, o trio Carlos Bica toca Jazz e foi uma bela surpresa
juntamente com a temperatura da noite...
adorei o vigoroso e estrangeiro baterista, com solos de tirar o fôlego...
o elogio é meio suspeito porque desde sempre que tenho este fraquinho
pela bateria e pela percussão em geral.
embora aprecie muito os instrumentos de cordas,
a bateria é definitivamente o instrumento que eu queria aprender a tocar.
pelo prazer que tenho ao fingir que toco, consigo imaginar como seria a sério.
na mesa não havia nenhum músico presente, só tocamos campainhas de porta, mais nada
e foi interessante perceber que o instrumento que mais gostamos de ouvir nem sempre é o mesmo que gostariamos de tocar.
com as preferências divulgadas já dava para formar um quarteto e a certa altura em que fui incentivada a aprender bateria:
- "porque não?"
desculpei-me com a idade....
- "se há putos de 8 anos a tocar bateria no Bravo Bravíssimo e sexagenários a tocar bateria, como nos Rolling Stones, estás bem na média..."
na próxima quarta-feira haverá novo encontro para ver e ouvir Jorge Palma, e quem sabe descobrir entre nós uma alma de vocalista.

quarta-feira, julho 14, 2004

O Suave Milagre 55 - paz

à minha volta, tanta beleza
que sempre lá esteve, de certeza
e como brilha a sua pureza
perante os meus olhos de estranheza
depois de vencida a dureza
e ultrapassada a frieza
percebo finalmente com clareza
que é a paz esta leveza.

sexta-feira, julho 09, 2004

O Suave Milagre 54 - loveu2

surfo numa onda gigante
ego em forma de tsunami
narciso encontra o espelho perdido
a auto-adoração, o auto-deslumbramento,
a auto-suficiência, a independência
paro de pensar no assunto
tenho que equilibrar-me,
balouçar-me, acompanhando as curvas
sei que esta onda vai acabar
e mais cedo ou mais tarde
deslizarei para a firme realidade
que ainda não perdi de vista
mas até lá, quando fecho os olhos
sonho com mais determinação
resgatando dos anos 80
a primeira vez que me apaixonei por mim.

"Há quanto tempo eu vinha me procurando
Quanto tempo faz, já nem lembro mais
Sempre correndo atrás de mim feito um louco
Tentando sair desse meu sufoco
Eu era tudo que eu podia querer
Era tão simples e eu custei para aprender
Daqui para a frente nova vida eu terei
Sempre a meu lado bem feliz eu serei

Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim

Como foi bom eu ter aparecido
Nessa minha vida já um tanto sofrida
Já não sabia mais o que fazer
Para eu gostar de mim, me aceitar assim
Eu que queria tanto ter alguém
Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém
Longe de mim nada mais faz sentido
Para toda vida eu quero estar comigo

Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim"

Ultraje A Rigor - Eu Me Amo

quinta-feira, julho 08, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 53 - dizer que não

música de fundo: Jacinta canta ao vivo
vista de frente: a Ponte Vasco da Gama iluminada
do lado direito: uma boa companhia, humor, cumplicidade e sintonia
do lado esquerdo: cerveja, sempre à mão
são momentos como o de ontem à noite
que me fazem tão apaixonada por esta cidade
tão intensamente, com promessas de amor eterno
à única cidade que me viu viver
e é por isso que me vai custar tanto deixá-la, um dia
porque é de uma paixão que se trata.

"Por vezes é mesmo assim
Não há outra solução
Doi muito dizer que sim
Doi menos dizer que não
...
Diz-lhe que não, diz-lhe que tudo acabou
Que é sempre mais feliz aquele que mais amou
...
Diz-lhe que não, está na hora de acabar
Mas por favor não lhe digas que ainda me viste chorar"

Dizer que não - Lúcia Moniz

quarta-feira, julho 07, 2004

Singularidades de uma rapariga loura 52 - arrepio

sol forte
calor percorrendo a coluna
todos os músculos relaxados
no corpo nu, sincero
os raios de sol
dão beijos nas sardas, uma por uma
a brisa inconstante
acaricia o cabelo solto, leviano
braços e pernas num bocejo
espreguiçando-se
de olhos fechados, sonolentos
sente-se o leve cheiro de sul
trazido de longe
sons distantes de cordas e percussão
o sangue circula preguiçoso
leva a vida em suaves movimentos
inspiração e expiração profundas
um arrepio sente-se em todo corpo
pleno de paz e de luz
lábios sorrindo numa boca sem verbo
o sal que cura as feridas
a areia que faz carícias
a dança feminina das ondas
na água abundante, infinita
que lava esta pele quente
este corpo em festa.

terça-feira, julho 06, 2004

O Suave Milagre 53 - quatro

ao longo da minha vida
tenho pertencido a grupos de quatro
e em todos eles fui sempre a última a chegar,
o quarto elemento...
são também quatro os "meus" grupos:
inseparáveis ao longo dos anos e
resistentes às voltas da vida
(o mais recente tem sete anos)
são grupos exclusivamente femininos
cada um com a sua dinâmica muito própria,
e perfeitamente identificados no tempo e no espaço
acredito que estamos juntas por alguma razão maior
e que temos papéis específicos nas vidas umas das outras
somos as quatro amigas de infância:
(o fogo, a água, a terra e o ar)
somos as quatro amigas do liceu:
(nova, crescente, cheia e minguante)
somos as quatro amigas da faculdade:
(a primavera, o verão, o outono e o inverno)
somos as quatro amigas do trabalho:
(o norte, o sul, o leste e o oeste)
dizem que o número quatro representa a estabilidade e a fidelidade
e não podiam estar mais certos.

sexta-feira, julho 02, 2004

O Suave Milagre 52 - a estrada

a propósito da minha viagem de fim-de-semana
um colega de trabalho disse-me
que tinha uma regra muito rígida:
"não faço mais de 50 Km para estar com ninguém"
e acrescentou que não acreditava minimamente
em relações à distância...
eu limitei-me a sorrir enquanto somava mentalmente
os Kms que tenho pela frente daqui a pouco,
os de comboio mais os de carro.
e quis provar-lhe, com algum orgulho, que acredito nas relações à distância e que elas podem funcionar
quis argumentar brilhantemente por dominar tão bem o tema,
por conhecer bem essa estrada, já lá vão nove anos
de idas e voltas
de despedidas tristes
de muitos sacrifícios e de esperas ansiosas
de inseguranças e de dúvidas
com todo o desgaste físico e emocional que isso implica.
e acabei por não dizer nada primeiro porque fomos interrompidos
e depois porque no fundo estaria a falar para mim mesma
sem conseguir distinguir se acredito mesmo
ou se apenas quero acreditar
quero muito acreditar...